terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Escolhas

Tantos caminhos
Escolha
Apenas um que você possa ir sem olhar 
Para trás
Vá em frente 
Sonhe
Deseje
Mas esteja consciente
Que somente você é responsável 
Por suas escolhas 
Suas conquistas
Suas falhas
Seus erros
Seus amores
Só você pode
Se amar
Ou se perdoar. 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Para você Alice

A menina estava cuidadosamente arrumada com seu vestido favorito amarelo. Ele contrastava com seus cabelos tão negros que desciam em duas tranças vindas do alto da cabeça, ao fim de cada trança um laço finalizava o penteado que a deixava ainda mais doce que já era. Quando sorria apareciam duas covinhas ao lado das fartas bochechas. Mas o rostinho hora tão infantil e alegre também sabia se fechar com uma seriedade adulta quando era contrariada. Assim ela já percebia dos seus quase dez anos de idade o efeito que sua cara fechada provocava. Então aprendeu a desfazer ela e colocar uma expressão natural e sem demonstrar sentimento algum.
Naquela manhã ela estava animada mas a sua animação a tornava um pouco desastrada, e não queria chatear a mãe. Afinal era ela que a levaria onde esperava para ir a semana toda: encontrar os doces cavalos do clube de equitação. Amora era uma égua de olhos doces e muito forte que estava lá. Também tinha o Patrick, um pônei que fazia a alegria dos menores. No caminho ia se concentrando no que ia acontecendo e fazendo uma prece silenciosa para que não encontrassem nenhum acidente nem trânsito para não atrasarem. Quando via o clube chegando se animava mais ainda. Já ia juntando as coisas e separando a cenoura que trouxera para dar aos animais. 
O primeiro encontro com a Amora já havia acontecido alguns dias antes. Os cavalos são animais sensíveis, parece que sentem o que estamos sentindo. Ela percebeu como estávamos precisando de alegria. De um alívio em meio ao furacão do dia a dia. Amora não sabe mas ela trouxe alguns instantes de paz na nossa semana. 

domingo, 29 de agosto de 2021

A paz que eu não queria

Aqui sentada ao seu lado, terminando uma tarde de preguiça, onde nos revesamos entre um cochilo na cama e uma espreguiçada no sofá. Fico assim te observando mais de perto e pensando. Quantas coisas passamos para chegar até aqui. Quantas brigas, quanto choro. Malas feitas. Aquela viagem tão longa. Aquele choro tão sentido. E eu fico me pergutando por quê. Porque lutei tanto contra nós. É difícil explicar assim olhando pra você. Seus olhos tão doces, tão quietos. Você tem um mundo em seu olhar. Os seus braços quando me envolvem me fazem esquecer tudo que se passou e só ficar. E eu que não queria estar presa a nada. Que jurei ser fiel somente a mim. A ser livre pra sempre. Me descubro agora presa em sua companhia. É que eu não estava acostumada sabe, a ser assim, tão amada. Não aceitei quando você disse que não me deixaria. Não acreditei quando você me aceitou de volta mais uma vez. Não entendia como você podia querer estar comigo. Logo eu, tão errada. Não mereço tanto. Não mereço nem o pouco. Os seus carinhos. A sua paciência. Sua compreensão. Em tempos de explosões, a sua calmaria. Eu achava que nunca repousaria em um lar. Em um amor. E você nunca me obrigou a ficar. Nem me impediu de ir. Mas você foi me buscar. Aquele dia em que eu só queria sumir e esquecer de tudo. Você estava de longe esperando. Você sabia. Me conhece mais que eu mesma. Você sabia que eu cansaria. E cansei. Quis seus abraços, seus olhos compreensivos. Meu lar é seu corpo. E você estava lá. Ainda bem que você não desistiu de mim. Porque eu teria desistido de nós talvez. Me desculpe pela sinceridade, mas é que eu não sabia que encontraria ainda uma paz tão grande. Em seus ternos olhos.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Escrevo cartas pra você, não consigo ligar. 
Falar pessoalmente também não dá. Já não saio mais. 
Voltando aquele velho conhecido 
Companheiro de escuridão 
Gosto de deixar a noite vir naturalmente 
Sem acender as luzes 
Até que a escuridão me tome por inteira 
Até que a velha tristeza entra pelo vento frio
Da porta que ficou aberta 
Da janela que não foi fechada 
Das roupas espalhadas pelo chão 
Da geladeira que guarda apenas água 
As comidas são sobras de marmitas compradas pelas ruas 
Apenas num ato de sobrevivência me alimento 
Não sei mais quem sou nesses momentos 
Se quero algo ainda 
Se vou levantar de novo
Penso em tomar um coquetel de remédios as vezes
E viajar 
Viajar para o cosmos 
Talvez rir um pouco 
Talvez beber algo 
Ou poderia me alegrar um pouco seria bom dizem
Mas se me alegrar hoje 
Ainda tenho o amanhã 
E ele me amedontra tanto
Que fico só esperando ele chegar 
Gemendo
Saiu sem querer 
Temendo meu corretor não conhecia 
Por isso ainda prefiro o lápis e o papel 
Mas tenho medo de perder meus papéis por aí 
E ser descoberta
E ter minha máscara sorridente e serena arrancada 
Não sei
Aonde vou 
Por isso fico


Então deixe ir 
As mágoas o medo
A falta o apego
A solidao 
Tão presente está aqui
Tudo que já senti 
Até quando apago 
O coração lembra 
É porque ele não sabe 
Que quero me curar 

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Clarice-me
Clarice me toca
desde quando nem tinha como entendê-la
achava bonito a maneira como arrumava as palavras
assim uma após a outra
as vezes sem sentido algum
só por conhecê-las
e eu admirava
como poderia alguém decorar todas estas
ou será que usava o dicionário ao lado?
Clarice não parecia ter muito se demorado
seus contos eram rápidos
ou era eu ao ler
devorava as linhas e páginas
sempre esperando por uma surpresa
ou algo que só Clarice poderia
porque ela já tinha ganhado minha confiança


e os anos passaram
e Clarice se foi
e eu nem soube
porque não acompanhava as notícias
ficava lá perdida no passado de Clarice
assim tão envolvida
que achei que ela ainda estava mesmo aqui
mas um dia descobri
ela já partira
foi quando mesmo?
lá enquanto eu a lia
e julgava se viria a compreendê-la um dia

e chegou a vida adulta
as contas
casamento
filhos
trabalho
pouco tempo
e espere
preciso encontrá-la
não conte a ninguém
deixei a bebê com a vó
para a consulta
mas vim para casa
matar as saudades dela
Clarice
e ai tudo começou a fazer sentido
e algumas coisas foram clareando
ela sabia
ela me entendia
quando a paixão ia apagando
Clarice me dizia
é assim mesmo
lembra?

E o filho cresce
e o trabalho fica maior
a casa também
que dificil fugir
e encontrar minha já posso dizer
talvez uma amiga?
Clarice me encontra nas madrugadas
quase escondidas
eu e ela
bem baixinho pois ninguem sabe ainda

E agora vem a crise
paixão já foi embora
amor ainda resiste
escolhas
deixo Clarice
deixo um pouco
eu
deixo a vida
vida que já deixou
Clarice
será que foi assim
que ela se deixou?

Poxa Clarice
foi só uma crise
e mais outra
e outra
e você sabe
já te conheço tão bem
nem preciso mais ler
já guardei suas palavras
e até o que queria esquecer
você me lembra
só você me entende
ou só eu te entederia

Mas
Eu ainda estou aqui
e sabe
até gosto
é boa a vida
será que você sabia?
Se ao menos tivessemos nos encontrado
eu lhe diria
fica Clarice
luta e vive

Trabalho
sala de aula
gramática
mais gramática
poxa que chato
eu não posso falar de ti?
Te levo para o recreio
para a sala dos professores
te copio em folhas
e apresento sua foto mais bonita
essa é Clarice
A do livro
mas por dentro sei que é
na verdade minha
Clarice
minha amiga.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

não quero escrever o que estou sentindo, não quero mesmo nem saber o que sinto. Mas preciso me resolver. Não quero mais pessoas feridas a minha volta. Tenho tido uma dor no peito, ela começou assim de leve, incomodando só as vezes no  fim do dia, mas ai foi aumentando, e passou a doer mais, e fui deixando ela lá, escondida, tentando não pensar, me ocupando com tudo e mais um pouco para não lembrar. Foi em vão, esse fim de semana ela veio forte, rasngando o peito, com toda severidade possível. Não deu para impedir, a dor que vinha doendo baixinho derramando uma lágrima contida, se derramou e virou um grito, uma raiva desmedida, uma vontade de quebrar o que ou quem viesse a frente.
Mas não é sobre mim que falo
Que falta você me faz. Já tanta que as vezes não sinto mais. O que ficou foram poucas lembranças, de um tempo que foi cruel e que não quero reviver jamais. Porém é só o que tenho.
Fico tentando arrumar justificativas para você ser assim e toda essa ausência. Que assim que aprendemos que a vida é desse jeito. Mas sabe, quanto mais vivo mas descubro que não preciso ser assim como você, e quanto mais aprendo mais quero desaprender tudo e fingir que nunca precisei de nada seu. Não quero seu dinheiro, apesar de já ter pensado que deveria, pra ser sincera nem sei mas talvez isso nos afastaria ainda mais. Não quero mais seu amor também. Não porque eu não saberia onde colocar ele. Você nunca soube o dar. Nem eu receber. Isso nos faz tão parecidos ne. Minha maior decepção foi ter perdido seu amor. Aquele que eu pensava ter, quando ainda era menina e não me permitia ver as coisas como eram de verdade. Eu te via tão grande, assustodoramente alto e forte um herói armado, que me defederia de todo mal. Menos do vazio que ficou quando vc não me olhou mais. Não sei quando e como foi. Se foi numa daquelas brigas, num dos tapas que estalaram e ardiam a face o resto da noite enquanto lágrimas grossas ardiam e desciam. Ou se foi quando tive meu primeiro amor. Mas sei que um dia percebi que nao nos olhavamos mais. Me senti intrusa em seu lar. Que ora tinha sido tambem meu. Fui embora. Esperei uma ligação, uma visita. Não aconteceu. Toda vez que voltei la me senti como um susto, uma visita inesperada como de fato era. Nunca avisei que ia, pq se tivesse que pensar doia, e não ia mais. Um dia em meio a correria se pegava dirigindo e indo naquela direção, quando se dava conta ja estava longe demais para voltar. E depois dessas visitas quantos dias eram de dor a mais forte de todas, a de reviver o passado no presente, e se dar conta que as circuntancias iam mudando mas algumas coisas permanecem